quinta-feira, julho 03, 2008

O Banco

Não foi premeditado. Como sempre, quando preciso chorar ou arrumar pensamentos, fui até à beira-mar.
O barulho das ondas a desfazer-se nas rochas, a água do mar a lamber a areia é um pouco do que preciso para desabafar em silêncio.
E ali estava ele: frio, forte, mas solitário. Aquele banco. Dos muitos que há por lá, apenas aquele estava desocupado; apenas aquele não estava ocupado pela multidão de sábado à tarde caminhando de lá para cá, qual colónia de formigas armazenando comida para o Inverno que se avizinha a qualquer altura.
Sentei-me. E só depois de me sentar, algum tempo depois, reflecti na localização daquele banco. “O solitário” era “o” banco. O banco onde tivemos (talvez) a nossa primeira conversa a sério como amigos.
Senti o frio do banco no corpo.
Deixei-me ficar assim algum tempo. À medida que o mar molhava a areia, também o frio do banco se ia entranhando na minha pele e carne, até chegar aos ossos.
Fechei os olhos e, tal como depois da tempestade vem a bonança, depois daquela primeira recordação vieram muitas mais. Nitidamente. Como se de cada vez que eu cerrasse mais os olhos, mais penetrasse nas memórias daquela noite. Daquela conversa.
Naquele momento senti-me uma pessoa de confiança. Senti-me bem perto de ti, mais a nível da mente do que a nível físico, devo confessar.
Quando me falaste de certas coisas que me mostraram a tua insegurança naquele momento, quando partilhaste comigo algo que te entristecia e que não querias ver tornado realidade… Quando vi as lágrimas nos teus olhos apeteceu-me afagar-te o cabelo, abraçar-te, manter-te junto a mim como uma criança inocente, insegura e indefesa; embalar-te nos braços e não parar de te sussurrar ao ouvido “está tudo bem” ou “pode não estar agora, mas vai ficar tudo bem”.
Apeteceu-me dar-te a mão e mantê-la apertada para saberes que estava lá para ti. E que, mesmo sem o saberes, continuo aqui agora.
Era capaz de ficar à cabeceira da cama da criança que há em ti até sentir a mão a aliviar a força que fazias na minha, porque finalmente te sentiste seguro suficiente para seguir sem mim.
Mas, de novo, voltei a ficar sozinha com os meus pensamentos…
Eu, a noite, a insónia e tu como «objecto» dos meus pensamentos.
Que belos parceiros para um jogo de cartas… Quem fará par com quem?


Liliana Lopes
10.05.2008
01:57

2 devaneios:

Ana Isabel Pedroso disse...

Tocante...

Um beijo de muita amizade!

Mário disse...

LINDO!!!
parece que temos o mesmo confidente...o mar!!!
vou colocar um texto que escrevi relacionado com isso mesmo...as conversas com o Mar!!!
espero que vas passando para conferir!!!