Eu ia no autocarro a caminho de casa. Ele estava num carro parado na fila de trânsito contrária.
Como observadora que sou, estava a olhar para ele, como é meu costume olhar para toda a gente. Como se pressentisse o meu olhar, ergueu o dele e os seus olhos cruzaram-se com os meus. Desviou o olhar. Mas eu não. Quando voltou a olhar-me, eu ainda tinha as minhas janelas da alma fixas nele. Agora foi a minha vez de desviar o olhar, porque a minha constante insegurança traiu-me. Quando voltei a deitar-lhe uma fugaz olhadela, ele continuava fixo em mim. Apetecia-me rir. Olhei para uma montra e de novo para ele. Não resisti e, agora sim, sorri, mais uma vez traída por uma das minhas características, que diz que não sou capaz de olhar muito tempo para uma pessoa sem sorrir. Para minha surpresa, ele sorriu também. E o autocarro arrancou naquele fim de tarde rumo ao seu destino.
E por falar em destino... será que num destes olhares furtivos cada um de nós pode encontrar mais do que apenas outro desconhecido com quem trocamos olhares e, quem sabe, um sorriso?
[Foto: Graça Salgueiro, Olhares]
4 devaneios:
pergunta: verdade ou ficção?
Resposta: verdade, quando foi escrito. No ano passado.
Com certeza...
pelo menos para aqueles que sabem conversar com os olhares e com sorrisos.
abs desde aqui
;D
Um olhar diz muito mais de mil palavras!
:)
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