segunda-feira, março 31, 2008

A um ausente

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.

Detonaste o pacto.

Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu,
enlouquecendo nossas horas.


Que poderias ter feito de mais grave
do que o acto sem continuação, o acto em si,
o acto que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.

Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

Carlos Drummond de Andrade



Pode ser que um dia passe... [a saudade]

2 devaneios:

Anónimo disse...

Talvez... =)
Mas enquanto isso estou eu aqui...

[gostei do poema]

bjinhos

Ai e Tal... disse...

Ole miuda!!! Vim retribuir a visita!!! Eu tb já pus este poema no meu blog... Adoro pois apesar de não rimar nem ter uma métrica certa, é directo e acertivo!!!

***MUAH*** e tb vais para os meus favoritos :PPP