segunda-feira, junho 02, 2008

Fingir que está tudo bem

fingir que está tudo bem: o corpo rasgado e vestido
com roupa passada a ferro, rastos de chamas dentro
do corpo, gritos desesperados sob as conversas: fingir
que está tudo bem: olhas-me e só tu sabes: na rua onde
os nossos olhares se encontram é noite: as pessoas
não imaginam: são tão ridículas as pessoas, tão
desprezíveis: as pessoas falam e não imaginam: nós
olhamo-nos: fingir que está tudo bem: o sangue a ferver
sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestades de
medo nos lábios a sorrir: será que vou morrer?, pergunto
dentro de mim: será que vou morrer?, olhas-me e só tu sabes:
ferros em brasa, fogo, silêncio e chuva que não se pode dizer:
amor e morte: fingir que está tudo bem: ter de sorrir: um
oceano que nos queima, um incêndio que nos afoga.

[José Luís Peixoto], um poema que até arrepia os ossos.

4 devaneios:

pikenatonta disse...

Fingir que está tudo bem... é o que faço diariamente!!...

Nunca li nada do José Luís Peixoto mas tenho muita curiosidade, e este poema aguçou-me mais ainda!

Beijinhos!

O Profeta disse...

Teus olhos são sóis adormecidos
Perdidos no profundo da noite
Luzeiros na procura da aurora
Que viajam sem rumo ou norte

Procuram a ironia do tempo
Os gritos que um rosto apregoa
Uma taça de ouro frio
O tempo que uma alma magoa


Boa semana


Doce beijo

scaramouche disse...

josé luís peixoto é um dos meus perferidos.

boa escolha,

scaramouche.

Ai e Tal... disse...

Tens que sorrir... Sem duvida!!!

***MUAH***